segunda-feira, 17 de março de 2014

Wittgenstein: As inovações de sua filosofia na obra "Investigações Filosóficas".

RESUMO: Na obra de Wittgenstein "Investigações Filosóficas" entendemos como um rompimento de uma forma de pensamento, que não consideramos transformação, mas uma inovação em sua filosofia. Logicamente que encontraremos ligações entre suas formas de pensamento, mas sua abordagem e suas observações, nesta obra que citamos acima acerca da linguagem, percebemos uma direção com sentido oposto ao "Tractatus", isto é, sua obra anterior. Mas como essa ruptura se deu e que caminhos foram construído para esta inovação é o que pretendemos tratar em nosso texto, tendo em vista sempre o que levou a este filósofo tomar rumos tão distintos aos seus iniciais.

Palavras-chave: Tractatus, Investigações Filosóficas, Wittgenstein, Filosofia da Linguagem.

INTRODUÇÃO.
Na história da filosofia temos vários filósofos que mudaram os rumos de suas análises e investigações mediante o seu amadurecimento ou mesmo de suas experiências vivenciadas e transformadas, quer sejam pela produção científica, pela moral, pela epistemologia ou simplesmente pelos rumos dos passos dados por cada um deles. Wittgenstein não foge da regra. A primeira obra é tida como obra da sua juventude, ficando no cargo de obra principal o trabalho "Investigações Filosóficas". A ruptura não é só consigo mesmo, mas também com a tradição filosófica, esta que se aproxima de sua primeira obra.
É óbvio que podemos perceber as ligações entre as obras, mas as investigações acerca da filosofia da linguagem vão em sentidos opostos se compararmos suas duas  obras. Visualizando sua biografia (da autoria de Ray Monk)[1] nós podemos perceber um pouco de como essa ruptura aconteceu e como este caminho foi construído tão distintamente do seu objetivo inicial em sua juventude.
I - OS DOIS CAMINHOS.
Wittgenstein ainda caminhava pelos estudos sobre engenharia quando topou com problemas matemáticos que chamaram sua atenção, mediante esta situação tomou partido em tentar solucioná-los. Ao procurar o primeiro que fundamentou a aritmética na lógica, não foi compreendido pelo mesmo, Gottlob Frege, que o recomendou Bertrand Russel, um pesquisador com ideias inovadoras para a área. Logo Wittgenstein se aproximou de Russel, tornando-se discípulo do mesmo, porém com mais competência em resolver os problemas que seu mestre tentava assim solucionar. Estes problemas eram referentes à lógica matemática e também à natureza da proporção e da linguagem. Suas respostas eu suposições vieram na forma de sua primeira obra, o "Tractatus". Com esta publicação, Wittgenstein deixa um pouco de lado a filosofia e se atem aos problemas em ofícios que julgou terem mais utilidade na vida cotidiana.
Mas a vida o provou que algumas coisas estavam equivocadas em sua primeira experiência com a filosofia. A maneira com que resolveu os problemas propostos por Russel não estavam de acordo com sua nova posição, isto é, estavam propostos de maneiras equivocadas. Esta conclusão levou a pensar que tais resoluções não levariam a nada para uma compreensão dos fenômenos da linguagem, o que fez tratar primeiramente de uma crítica à sua primeira filosofia exposta no "Tractatus".
Doravante, com a crítica ao seu primeiro pensamento, levamos em consideração que estaria também criticando a tradição filosófica, visto que suas antigas análises se enquadravam com o passado da filosofia.
II - SOBRE O TRACTATUS.
As ideias que estão expostas no "Tractatus" que são tão criticadas pelo próprio autor posteriormente tratam da teoria do significado linguístico, chamada de teoria da figuração que tenta dar explicações de como se pode falar sobre o mundo.
Wittgenstein acreditava que para falarmos do mundo deve haver alguma coisa em comum entre o mundo e a linguagem propriamente dita. E este elemento em comum há de estar nas duas estruturas, de modo que se podemos conhecer a estrutura de um deles, podemos também conhecer a do outro. Pensando que a lógica esclarece a estrutura desta linguagem, também poderia revelar a estrutura do mundo. Com isso, subjaz a compreensão de uma estrutura a priori do mundo, e também na lógica em forma de uma estrutura de linguagem. Esta compreensão tinha forma de convicção, que dava a ele o encorpado sustento da teoria da figuração.
Esta teoria revela como é feita a ligação entre a estrutura lógica do mundo e a estrutura lógica da linguagem, o que viabiliza a ponte que estabelece uma conexão para, através da linguagem, falarmos sobre o mundo. São simples elementos compostos tanto na linguagem quanto no mundo que formam estruturas lógicas, estas que formam complexos. Os elementos simples são assim por dizer objetos que, logicamente organizados, formam os fatos.
Por outro lado, na linguagem, estes simples elementos são as palavras que, organizadas, formam em estrutura o que chamamos de frases. Nas frases temos uma relação que ocorre como correspondente aos objetos. Já com em relação à frase e os fatos, vemos um compartilhamento da forma, o que corresponde à forma lógica.
Assim como a forma dos objetos dão sentido aos fatos, a forma das palavras dão origem às frases, e com isso o sentido destas. O sentido da frase está na expressão de um fato possível e, realmente ocorrendo o fato, manifesta-se como verdadeira.
A afiguração dos fatos é feita pela linguagem, ou seja, algo prioritariamente lógico, mas também podendo ser linguística, como no caso da linguagem ordinária, podendo ter fatos com forma lógica e compartilhada por toda e qualquer figuração, como espacial, no caso de uma escultura; colorida, no caso de um desenho; em outros casos, as formas cabem como específicas para alguns tipos específicos de fatos.
No caso destas frases ordinárias, elas se encontram em ordem tal como podem ser, mas na forma da linguística podemos encontrar erros que podem até levar a ambiguidades. Contudo, pensando na análise lógica das frases da linguagem comum podemos chegar à figuração puramente lógica, isto é, ao pensamento puramente contido na frase.
Nesta primeira fase de Wittgenstein, conseguimos pensar e expressar unicamente fatos logicamente possíveis, daí se dá a tese do indizível, que dá o tom mais ortodoxo e radical do "Tractatus", que revela só poder expressar fatos possíveis no mundo. O que faz da subjetividade algo que não pode ser expressado, isto é, somente mostrado.
III - O ROMPIMENTO COM O TRACTATUS E SUA CRÍTICA NAS INVESTIGAÇÕES FILOSÓFICAS.
Wittgenstein logo deu indícios de que a composição de sua filosofia no "Tractatus" já não detinha mais seus interesses acadêmicos, pelo contrário, gerava uma insatisfação com o rumo que tomou a resolução dos problemas. Algumas doutrinas consideradas básicas em sua primeira obra, tais como a de que a totalidade das proposições é a linguagem, ou a teoria da figuração, já são refutadas e consideradas dignas de revisão por não considerar alguns questionamentos referentes a falta de exemplos convictos ou mesmo pela certeza com que trata algumas observações.
O rompimento com esta filosofia o fez também romper com a tradição, visto a clara ligação entre as mesmas. Consequentemente, Wittgenstein se apropria de uma crítica a si mesmo à tradição, de forma que tenha mais liberdade em pensar a questão da linguagem sem os moldes anteriores.
Seguimos duas categorias amplas nas quais o autor aplica a crítica a si mesmo e à tradição, sendo eles o referencialismo e o perfeccionismo lógico. Fundidas, estas ideias permeiam o que a tradição e o jovem Wittgenstein consideram como verdadeiro.
Wiitgenstein mostra que na sua primeira obra, toda a tradição da qual ele seguia, fora induzida por seu mentor Russel, influenciado por demais nas ideias de Platão. Em suas características trazia um entrelaçamento conceitual que gera o referencialismo e o perfeccionismo lógico. Este entrelaçamento é feito entre os conceitos de mente, mundo e linguagem: considerando equivalentes estas três dimensões, vê-se como necessária a correspondência entre os mesmos e entre os pensamentos, fatos e proposições.
Sua crítica cabe a refutação da hipótese de que o ideal está necessariamente no pensamento. Deste modo, não há uma visão de mundo melhor e mais verdadeira que a da tradição, tampouco uma visão de mundo filosófica, e daí que sai sua maior crítica ao a priori composto no seu primeiro trabalho. Nesta nova empreitada, o autor busca o método a posteriori de investigação, pois segundo o mesmo, é preciso retirar o óculos e novamente enxergar o mundo com nosso velho método "incorreto".
O referencialismo consiste em uma determinada visão de linguagem na qual as palavras determinam objetos e assim as frases são ligações de tais determinações. É uma visão comum na tradição filosófica, e boa parte das "Investigações Filosóficas" são destinadas à crítica desta filosofia, e na demonstração da insuficiência de argumentos que dêem conta da totalidade dos fenômenos linguísticos.Segundo o autor, em sua nova jornada, não é possível reduzir todas palavras a nomes. Ele demonstra no decorrer de sua obra que nem todas as palavras são nomes de objetos, e que se confunde o significado dos nomes com seus portadores, e desta forma, se o objeto desaparecesse, a palavra também desapareceria, não fazendo sentido assim, pois o significante (portador) foi que desapareceu, e não sua significação.
Wittgenstein não aprova a ideia, nessa nova instância de seus pensamentos, de que a linguagem representa o mundo de forma fiel e verdadeira. O perfeccionismo lógico também gerou uma crítica interna em sua filosofia, porém, mais difícil de se abandonar.
Em sua primeira obra, o autor considera que os objetos dos quais se referem as palavras são simples, o que torna o significado unívoco. De fato, sua simplicidade acaba sendo um postulado para garantir que o significado das palavras não possa mudar, e a verdade não seja uma noção sem valor. Por esses motivos lhe faltam exemplos na sua primeira obra que assegurem suas afirmações. Os objetos assim asseguram à possibilidade de perda de referência da linguagem. Com sua imutabilidade acabam garantindo que não sejam transformados seus significados. E é essa garantia da verdade que colocam a necessidade da exatidão da lógica e o perfeccionismo em sua forma.
Sua crítica à primeira obra traz em si a ideia da impossibilidade da exatidão última, o que destrói sua convicção anterior de que a lógica é a estruturadora do pensamento, do mundo e da linguagem.


CONCLUSÃO.
E Platão nós vimos o início da teoria da exatidão da linguagem exposta no "Tractatus" , e é a exatidão da busca da verdade das palavras que guia seu questionamento, que só pode ser respondida pela teoria platônica das ideias, ou seja, resposta quase que insuficiente para uma análise lógica.
O segundo Wittgenstein abandona a tradição, que escolheu Platão em vez dos sofistas para guiar a filosofia da linguagem, e retorna aos argumentos que lembram a filosofia sofística. Ele faz um tipo de filosofia que busca abandonar antigos ideais e que busca a compreensão do seu uso no cotidiano, de modo que releve a cultura e a natureza, e sequer se aprofundar em discussões infinitas de conceitos tais como os filósofos da tradição faziam.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHAUI, M. "Introdução à história da filosofia – Vol. 1. Dos pré-socráticos a Aristóteles." São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
GLOCK, H-J. 1998. *Dicionário Wittgenstein*. Rio de Janeiro: Zahar Ed.
HACKER, P.M.S.2000. *Wittgenstein: sobre a natureza humana*. SP:UNESP
MONK, Ray. Wittgenstein – O dever do gênio. Tradução: Carlos Alfonso Malferrari. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
STEGMÜLLER, Wolfgang. A filosofia contemporânea – Introdução Crítica, Vol. 1. Tradução: Edwino A. Royer. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, 1976.
WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações Filosóficas. Tradução: José Carlos Bruni. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1999 (Coleção Os Pensadores: Wittgenstein).
______. Tractatus Logico-Philosophicus. Tradução: Luiz Henrique Lopes dos Santos. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1994.



[1]  Visitado em 20/01/14 disponível em http://www.youtube.com/watch?v=SFlzWBvmjUo 

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