RESUMO:
Na obra de Wittgenstein "Investigações
Filosóficas" entendemos como um rompimento de uma forma de pensamento,
que não consideramos transformação, mas uma inovação em sua filosofia.
Logicamente que encontraremos ligações entre suas formas de pensamento, mas sua
abordagem e suas observações, nesta obra que citamos acima acerca da linguagem,
percebemos uma direção com sentido oposto ao "Tractatus", isto é, sua obra anterior. Mas como essa ruptura
se deu e que caminhos foram construído para esta inovação é o que pretendemos
tratar em nosso texto, tendo em vista sempre o que levou a este filósofo tomar
rumos tão distintos aos seus iniciais.
Palavras-chave: Tractatus,
Investigações Filosóficas, Wittgenstein, Filosofia da Linguagem.
INTRODUÇÃO.
Na
história da filosofia temos vários filósofos que mudaram os rumos de suas
análises e investigações mediante o seu amadurecimento ou mesmo de suas
experiências vivenciadas e transformadas, quer sejam pela produção científica,
pela moral, pela epistemologia ou simplesmente pelos rumos dos passos dados por
cada um deles. Wittgenstein não foge da regra. A primeira obra é tida como obra
da sua juventude, ficando no cargo de obra principal o trabalho "Investigações Filosóficas". A
ruptura não é só consigo mesmo, mas também com a tradição filosófica, esta que
se aproxima de sua primeira obra.
É
óbvio que podemos perceber as ligações entre as obras, mas as investigações
acerca da filosofia da linguagem vão em sentidos opostos se compararmos suas
duas obras. Visualizando sua biografia
(da autoria de Ray Monk)[1]
nós podemos perceber um pouco de como essa ruptura aconteceu e como este
caminho foi construído tão distintamente do seu objetivo inicial em sua
juventude.
I - OS DOIS CAMINHOS.
Wittgenstein
ainda caminhava pelos estudos sobre engenharia quando topou com problemas
matemáticos que chamaram sua atenção, mediante esta situação tomou partido em
tentar solucioná-los. Ao procurar o primeiro que fundamentou a aritmética na
lógica, não foi compreendido pelo mesmo, Gottlob Frege, que o recomendou
Bertrand Russel, um pesquisador com ideias inovadoras para a área. Logo
Wittgenstein se aproximou de Russel, tornando-se discípulo do mesmo, porém com
mais competência em resolver os problemas que seu mestre tentava assim
solucionar. Estes problemas eram referentes à lógica matemática e também à
natureza da proporção e da linguagem. Suas respostas eu suposições vieram na
forma de sua primeira obra, o "Tractatus".
Com esta publicação, Wittgenstein deixa um pouco de lado a filosofia e se atem
aos problemas em ofícios que julgou terem mais utilidade na vida cotidiana.
Mas
a vida o provou que algumas coisas estavam equivocadas em sua primeira
experiência com a filosofia. A maneira com que resolveu os problemas propostos
por Russel não estavam de acordo com sua nova posição, isto é, estavam
propostos de maneiras equivocadas. Esta conclusão levou a pensar que tais
resoluções não levariam a nada para uma compreensão dos fenômenos da linguagem,
o que fez tratar primeiramente de uma crítica à sua primeira filosofia exposta
no "Tractatus".
Doravante,
com a crítica ao seu primeiro pensamento, levamos em consideração que estaria
também criticando a tradição filosófica, visto que suas antigas análises se
enquadravam com o passado da filosofia.
II - SOBRE O TRACTATUS.
As
ideias que estão expostas no "Tractatus"
que são tão criticadas pelo próprio autor posteriormente tratam da teoria do
significado linguístico, chamada de teoria da figuração que tenta dar
explicações de como se pode falar sobre o mundo.
Wittgenstein
acreditava que para falarmos do mundo deve haver alguma coisa em comum entre o
mundo e a linguagem propriamente dita. E este elemento em comum há de estar nas
duas estruturas, de modo que se podemos conhecer a estrutura de um deles,
podemos também conhecer a do outro. Pensando que a lógica esclarece a estrutura
desta linguagem, também poderia revelar a estrutura do mundo. Com isso, subjaz
a compreensão de uma estrutura a priori
do mundo, e também na lógica em forma de uma estrutura de linguagem. Esta
compreensão tinha forma de convicção, que dava a ele o encorpado sustento da
teoria da figuração.
Esta
teoria revela como é feita a ligação entre a estrutura lógica do mundo e a
estrutura lógica da linguagem, o que viabiliza a ponte que estabelece uma
conexão para, através da linguagem, falarmos sobre o mundo. São simples
elementos compostos tanto na linguagem quanto no mundo que formam estruturas
lógicas, estas que formam complexos. Os elementos simples são assim por dizer
objetos que, logicamente organizados, formam os fatos.
Por
outro lado, na linguagem, estes simples elementos são as palavras que, organizadas,
formam em estrutura o que chamamos de frases. Nas frases temos uma relação que
ocorre como correspondente aos objetos. Já com em relação à frase e os fatos,
vemos um compartilhamento da forma, o que corresponde à forma lógica.
Assim
como a forma dos objetos dão sentido aos fatos, a forma das palavras dão origem
às frases, e com isso o sentido destas. O sentido da frase está na expressão de
um fato possível e, realmente ocorrendo o fato, manifesta-se como verdadeira.
A
afiguração dos fatos é feita pela linguagem, ou seja, algo prioritariamente
lógico, mas também podendo ser linguística, como no caso da linguagem
ordinária, podendo ter fatos com forma lógica e compartilhada por toda e
qualquer figuração, como espacial, no caso de uma escultura; colorida, no caso
de um desenho; em outros casos, as formas cabem como específicas para alguns
tipos específicos de fatos.
No
caso destas frases ordinárias, elas se encontram em ordem tal como podem ser,
mas na forma da linguística podemos encontrar erros que podem até levar a
ambiguidades. Contudo, pensando na análise lógica das frases da linguagem comum
podemos chegar à figuração puramente lógica, isto é, ao pensamento puramente
contido na frase.
Nesta
primeira fase de Wittgenstein, conseguimos pensar e expressar unicamente fatos
logicamente possíveis, daí se dá a tese do indizível, que dá o tom mais
ortodoxo e radical do "Tractatus",
que revela só poder expressar fatos possíveis no mundo. O que faz da
subjetividade algo que não pode ser expressado, isto é, somente mostrado.
III - O ROMPIMENTO COM
O TRACTATUS E SUA CRÍTICA NAS INVESTIGAÇÕES FILOSÓFICAS.
Wittgenstein
logo deu indícios de que a composição de sua filosofia no "Tractatus" já não detinha mais seus
interesses acadêmicos, pelo contrário, gerava uma insatisfação com o rumo que
tomou a resolução dos problemas. Algumas doutrinas consideradas básicas em sua
primeira obra, tais como a de que a totalidade das proposições é a linguagem,
ou a teoria da figuração, já são refutadas e consideradas dignas de revisão por
não considerar alguns questionamentos referentes a falta de exemplos convictos
ou mesmo pela certeza com que trata algumas observações.
O
rompimento com esta filosofia o fez também romper com a tradição, visto a clara
ligação entre as mesmas. Consequentemente, Wittgenstein se apropria de uma
crítica a si mesmo à tradição, de forma que tenha mais liberdade em pensar a
questão da linguagem sem os moldes anteriores.
Seguimos
duas categorias amplas nas quais o autor aplica a crítica a si mesmo e à
tradição, sendo eles o referencialismo e o perfeccionismo lógico. Fundidas,
estas ideias permeiam o que a tradição e o jovem Wittgenstein consideram como
verdadeiro.
Wiitgenstein
mostra que na sua primeira obra, toda a tradição da qual ele seguia, fora
induzida por seu mentor Russel, influenciado por demais nas ideias de Platão.
Em suas características trazia um entrelaçamento conceitual que gera o
referencialismo e o perfeccionismo lógico. Este entrelaçamento é feito entre os
conceitos de mente, mundo e linguagem: considerando equivalentes estas três
dimensões, vê-se como necessária a correspondência entre os mesmos e entre os
pensamentos, fatos e proposições.
Sua
crítica cabe a refutação da hipótese de que o ideal está necessariamente no
pensamento. Deste modo, não há uma visão de mundo melhor e mais verdadeira que
a da tradição, tampouco uma visão de mundo filosófica, e daí que sai sua maior
crítica ao a priori composto no seu
primeiro trabalho. Nesta nova empreitada, o autor busca o método a posteriori de investigação, pois
segundo o mesmo, é preciso retirar o óculos e novamente enxergar o mundo com
nosso velho método "incorreto".
O
referencialismo consiste em uma determinada visão de linguagem na qual as
palavras determinam objetos e assim as frases são ligações de tais
determinações. É uma visão comum na tradição filosófica, e boa parte das
"Investigações Filosóficas" são destinadas à crítica desta filosofia,
e na demonstração da insuficiência de argumentos que dêem conta da totalidade
dos fenômenos linguísticos.Segundo o autor, em sua nova jornada, não é possível
reduzir todas palavras a nomes. Ele demonstra no decorrer de sua obra que nem
todas as palavras são nomes de objetos, e que se confunde o significado dos
nomes com seus portadores, e desta forma, se o objeto desaparecesse, a palavra
também desapareceria, não fazendo sentido assim, pois o significante (portador)
foi que desapareceu, e não sua significação.
Wittgenstein
não aprova a ideia, nessa nova instância de seus pensamentos, de que a
linguagem representa o mundo de forma fiel e verdadeira. O perfeccionismo
lógico também gerou uma crítica interna em sua filosofia, porém, mais difícil
de se abandonar.
Em
sua primeira obra, o autor considera que os objetos dos quais se referem as
palavras são simples, o que torna o significado unívoco. De fato, sua
simplicidade acaba sendo um postulado para garantir que o significado das
palavras não possa mudar, e a verdade não seja uma noção sem valor. Por esses
motivos lhe faltam exemplos na sua primeira obra que assegurem suas afirmações.
Os objetos assim asseguram à possibilidade de perda de referência da linguagem.
Com sua imutabilidade acabam garantindo que não sejam transformados seus
significados. E é essa garantia da verdade que colocam a necessidade da
exatidão da lógica e o perfeccionismo em sua forma.
Sua
crítica à primeira obra traz em si a ideia da impossibilidade da exatidão
última, o que destrói sua convicção anterior de que a lógica é a estruturadora
do pensamento, do mundo e da linguagem.
CONCLUSÃO.
E
Platão nós vimos o início da teoria da exatidão da linguagem exposta no "Tractatus" , e é a exatidão da
busca da verdade das palavras que guia seu questionamento, que só pode ser
respondida pela teoria platônica das ideias, ou seja, resposta quase que
insuficiente para uma análise lógica.
O
segundo Wittgenstein abandona a tradição, que escolheu Platão em vez dos
sofistas para guiar a filosofia da linguagem, e retorna aos argumentos que
lembram a filosofia sofística. Ele faz um tipo de filosofia que busca abandonar
antigos ideais e que busca a compreensão do seu uso no cotidiano, de modo que
releve a cultura e a natureza, e sequer se aprofundar em discussões infinitas
de conceitos tais como os filósofos da tradição faziam.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
CHAUI,
M. "Introdução à história da filosofia – Vol. 1. Dos pré-socráticos a
Aristóteles." São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
GLOCK,
H-J. 1998. *Dicionário Wittgenstein*. Rio de Janeiro: Zahar Ed.
HACKER, P.M.S.2000. *Wittgenstein: sobre a natureza
humana*. SP:UNESP
MONK,
Ray. Wittgenstein – O dever do gênio. Tradução: Carlos Alfonso Malferrari. São
Paulo: Companhia das Letras, 1995.
STEGMÜLLER,
Wolfgang. A filosofia contemporânea – Introdução Crítica, Vol. 1. Tradução:
Edwino A. Royer. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, 1976.
WITTGENSTEIN,
Ludwig. Investigações Filosóficas. Tradução: José Carlos Bruni. São Paulo:
Editora Nova Cultural, 1999 (Coleção Os Pensadores: Wittgenstein).
______.
Tractatus Logico-Philosophicus. Tradução: Luiz Henrique Lopes dos Santos. São
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1994.
[1] Visitado em 20/01/14 disponível em http://www.youtube.com/watch?v=SFlzWBvmjUo
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